Serra da Misericórdia

A última área verde da Leopoldina na mira dos caçadores.

Por Ana Emília

O Rio é cidade cercada por maciços e áreas verdes. O arquiteto Le Corbusier quando veio pra cá ficou impressionado com as nossas montanhas e sugeriu o desenho de um projeto urbanístico que dialogasse com as silhuetas cariocas. Hoje a urbanização acelerada e o aditivo da desigualdade social motivam improvisos urbanísticos.

Desenho de Le Corbusier, Rio de Janeiro. 1929

Fora do projeto e sobre as montanhas vistas pelo arquiteto, as favelas proliferaram e com elas alternativas, muitas vezes precárias, mas extremamente criativas de relação entre o homem e o ambiente em que vive.

Sob a terra e sob o território, os interesses são múltiplos. A necessidade de moradia e ou de áreas de convívio, disputam espaço com necessidades outras. No centro da cidade e em suas encostas, a viabilização dos fluxos e o turismo justificam a gentrificação, remoções para construção de rodovias, ferrovias, aeroportos, museus e estádios. No subúrbio o progresso justifica a ocupação de grandes terrenos para que indústrias atuem e possam extrair matéria prima. As montanhas ganham novos contornos pelas terraplanagens e ocupações inevitáveis. O projeto urbanístico ganha outras demandas, ultrapassa o progresso expresso dos prédios e autopistas de Le Corbusier, para dar a ver os questionamentos em relação aos usos e à vida de nossas montanhas.

Complexo-do-Alemão2

O maciço da Serra da Misericórdia localiza-se entre as baixadas de Inhaúma e Irajá. Sendo o quarto maior maciço do município do Rio de Janeiro. Este maciço se estende por 26 bairros do subúrbio carioca, sendo eles:

Abolição, Bonsucesso, Cavalcante, Cascadura, Complexo do Alemão, Engenho da Rainha, Higienópolis, Inhaúma, Irajá, Madureira, Olaria, Penha, Penha Circular, Piedade, Pilares, Encantado, Ramos, Rocha Miranda, Colégio, Tomas Coelho, Turiaçu, Engenheiro Leal, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila Kosmos e Quintino Bocaiúva.

Com o processo de urbanização da cidade, esta região do subúrbio e toda sua adjacência tiveram uma ocupação extremamente desordenada, resultando, hoje, nos cinco grandes complexos de favelas que circundam a Serra da Misericórdia (Alemão, Penha, Serrinha, Juramento e Sapê  (segundo dados do IPP).

proj_parque

 

 

De Bonsucesso à Madureira, o maciço rochoso abriga a última área verde com mata atlântica no perímetro. Estando no centro da Zona Norte do município do Rio de Janeiro, a Serra da Misericórdia possui relevância na geografia carioca, e não passa despercebida aos moradores de seu entorno, que tendo divergências de ideias, especulam sobre diferentes usos desta.

O espaço hoje é ocupado por duas mineradoras em funcionamento, mas desde os anos 90, moradores formaram associações voluntárias como as ONG’s Verdejar e Bicuda Ecológica, vem atuando com o objetivo de reivindicar a criação de um grande parque ecológico de uso múltiplo. A proposta gira em torno da revitalização de toda a área verde, criando infraestrutura e equipamentos públicos que promovam a qualidade de vida da população de mais de 2 milhões de pessoas do entorno, sobretudo das favelas, como Complexo do Alemão e da Penha.

Na disputa por espaço e moradia, essa alternativa se anuncia como forma de garantir o direito a uma área de lazer preservada. Depois de muitas propostas e muitas frustrações – como a criação do Bike Park que ocupa 1% da serra ou ações de reflorestamento que não saíram do papel – a ação “Eu amo a Serra da Misericórdia” se apresenta como uma alternativa para reverter o quadro e contribuir para uma relação menos nociva entre homem natura.

 
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