um olhar que reinventa o abandono, revelando a poética contida na natureza do tempo, das construções e seu (des)uso.
Por Claudio Barría
sobre fotos de Christian Richter
É perturbador constatar, em algumas poucas imagens, a profunda capacidade do olhar humano de descobrir a beleza e recria-la, de trazer à tona toda a aura de um objeto ou lugar, isto é, toda sua memória perdida no abandono, só com o ato de ver e registrar. E é comovedor constatar a capacidade de uma obra de arte da imagem – como a fotografia e, em alguns raros casos, o cinema – de transmitir essa confluência de sentimentos e histórias não ditas, reinventando-as de beleza e atualidade.
Embora uma 5D Mark III possa fazer sua parte, sem dúvida não é isso que possibilita o efeito que nos toca. A luz, por exemplo. Sua inexplicável complacência com as curvas e sua cumplicidade íntima com a teias de aranha e os líquens, como reduzir essa capacidade de abrir portas de sentido a uma mera questão técnica ou de equipamento?
Não. De um modo estranho, as profundas e dolorosas mudanças que assolaram a antiga República Democrática Alemã, em seu abrupto retorno ao mundo ocidental e sua vertigem de consumo, acumulação e acelerada amnésia, parecem nos falar desde cada uma das escadas coletadas por anos pelo fotógrafo alemão Christian Richter, escadas a lugar nenhum, refeitas de plantas, poeira sonhos.
Escadas de luz e sombra, de espaço habitado e provido de profundos sentidos para quem consegue ouvir os passos que ali deixaram suas pegadas.
Fonte das imagens:
Site do Fotografo Christian Richter, ensaio Abandoned