A arte/Educação sela uma nova amizade: a memória. O Astrolábio publica série de entrevistas inéditas com a que poderia se chamar 1ª Geração de Arte-Educadores do Brasil, revisitando as raízes e radicantes que têm fortificado o Tear ao longo dos seus 35 anos de existência.
“E houve tudo o mais que não sei, que é o caldo de cultura de qualquer história.”
Clarice Lispector
O projeto Memória da Arte / Educação no Brasil nasce do desejo do Instituto de Arte Tear de rever os marcos e influências em sua trajetória.
A proposta é apresentar, mensalmente, entrevistas com Arte educadores que fizeram parte da nossa história, parceiros de uma longa caminhada e cujo trabalho tem influenciado o próprio desenvolvimento da Arte/Educação no Brasil.
“As palavras não podem ser consideradas como uma vestimenta do pensamento, são fundamentalmente um prolongamento do corpo. Nesse âmbito são comparadas ao gesto” Merleau-Ponty”
A iniciativa do Museu da Pessoa, através do Fundo Desafio (Ashoka), potencializou este encontro e trouxe a questão da Memória como trama catalisadora desta pesquisa criativa. Memória aqui compreendida não como destino e sim como projeto, luta pelo futuro.
Como diz José Antonio Marina:
“A memória não é um peso que deixamos cair para seguir mais leves, mas sim o combustível que nos permite voar. É um peso que não oprime, antes eleva.”
Memória não é história. As teses, os livros, a mídia apresentam uma História da Arte-Educação no Brasil. Pensamos que a história tem vidas como recheio. E cada vida tem em seu corpo, memórias. Pensar a Arte-Educação a partir destas narrativas é a busca de outras histórias, para além dos registros oficiais.
“As memórias de mim mesmo me ajuda a entender as tramas das quais fiz parte.”
Depoimento de Paulo Freire para o Museu da Pessoa.
Diz-se que, para ter muita imaginação, há que ter muita memória! Neste sentido, buscamos fontes de imaginação, alimento para nosso trabalho presente. Os encontros de formação junto ao Museu da Pessoa permitiram que fizéssemos um primeiro desenho do Projeto e a participação conjunta na XV Confaeb no Rio de Janeiro, com a “web-cabine”, animaram nossas intenções.
A realização das entrevistas, mesmo que por minutos (web-cabine) acenderam nossa decisão de iniciarmos a conversação com a chamada 1ª Geração de Arte-Educadores. Pessoas que, de alguma forma, estavam ligadas na Semana de Arte-Educação realizada em 1980 (SP). Encontro este que foi um marco na organização de associações de arte-educadores no Brasil, inclusive da própria Faeb (fundada em 1987).
“Como qualquer experiência humana, a memória é também um campo minado pelos conflitos sociais, um campo de luta política, de verdades que se batem, no qual esforços de ocultação e clarificação estão presentes, da luta entre sujeitos históricos diversos, que produzem diferentes versões, interpretações, valores e práticas culturais”.
Dea Ribeiro Fenelon
A vontade de relembrar este processo refletia a compreensão de que esta narrativa tinha múltiplas vozes e que estes protagonistas são referências humanas desta pluralidade. Escutá-los nestes depoimentos de vida e obra é repensar nossa própria história como indivíduos e organizações.
Podemos considerar as entrevistas como momentos de reinvenção de nós mesmos. Ou, como diz Jorge Larossa, uma verdadeira experiência: “(…) aquilo que nos passa ou que nos toca ou que nos acontece, e ao passar-nos nos forma e transforma”. Fomos tombados pela beleza da presença biográfica de cada um. E num misto de vertigem e felicidade mergulhamos no universo da vida dos entrevistados.
“É certo que a vida não explica a obra porem é certo também que se comunicam (…) A verdade é que essa obra a fazer exigia esta vida’.
Meleau-Ponty
Antes mesmo de serem transcritas, as entrevistas realizadas já dialogavam entre si em nossas cabeças. Em cada organização a leitura dos textos e contextos vividos acordava diferentes sentidos e significados.
“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.”
Carlos Drummond de Andrade
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