entrevista com Fernando Antônio Gonçalves de Azevedo

astro

Por Adriana Costa

Queria que contasse um pouco sobre sua história de ser arte/educador?

“Conviver com uma filósofa como [link id=”5020″ text=”Dona Noêmia”] Varela dá muita coragem, de você ser aprendiz no ato de ensinar. A mesma coragem que tem Ana Mae de ser eternamente uma pesquisadora. E não ter medo que seus aprendizes, que seus discípulos – eu digo que sou discípulo delas – aprendam coisas por caminhos diferentes. Há essa coragem de acolher democraticamente várias visões, vários jeitos de ver. Eu acho que isso é a grande lição que eu aprendi com elas e com a minha avó. É uma coisa feminina, essa coragem de aprender, reconstruir, esse bordado que sempre se costura e (re)costura.”

Como aconteceu a sua ligação com a Arte?

“O gostar de Arte, porém, é anterior, surgiu em minha vida de maneira muito especial. Quando criança, fui morar com minha avó, durante um período no Rio de Janeiro e com ela fui às primeiras peças de teatro e aos primeiros filmes. Foi também com ela que aprendi a prestar atenção às poesias que ela lia em voz alta, teatralizando-as. Mas de todas as experiências vividas com a minha avó, Alice Solon de Melo (mãe de meu pai), a mais significativa foi ter ido a uma ópera, O Barbeiro de Sevilha, do italiano Gioachino Rossini. Esta se transformou em um verdadeiro acontecimento provocando uma espécie de divisor de águas em minha vida de criança, tudo era tão fascinante e grandioso. Desde a preparação para ir ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro com uma roupa de paletó de veludo alugada até a entrada naquele lugar, onde eu não distinguia a arquitetura e a cenografia do próprio teatro com a cenografia da ópera, tudo era uma mágica só.

Eu sempre fui péssimo aluno nas escolas convencionais. Dona Noêmia me contou a história de que o Augusto Rodrigues, ele foi também um aluno que odiava a escola. Minha avó também não gostava da escola.Eu conheci Dona Noêmia quando era criança na Escolinha que era um território de liberdade. Eu me sentia respeitado lá. Aquele espaço era quase como uma igreja para mim.

Depois eu pesquisei o pensamento de Ana Mae e o de Dona Noêmia a partir de uma briga intelectual que eu vi entre elas em 1987 em Brasília como parte da programação da FLAAC I Festival Latino-Americano e Africano de Arte e Cultura.”

Evento que marcou no âmbito da Arte e da Cultura o movimento de abertura política brasileira.

Tal embate gerou a dissertação: Movimento Escolinhas de Arte: em cena memórias de Noemia Varela e Ana Mae Barbosa, defendida na ECA/USP. Eu escrevi uma síntese que eu penso que é mais uma síntese poética.”

O que resultou deste processo dialógico entre Ana Mae e Dona Noemia Varela?

“A meu ver é neste momento de embate entre a concepção de Arte/Educação modernista com a pós-modernista, ou melhor, é no esforço de conceituar os trânsitos entre ambas, não compreendendo esses como passagem ou ruptura, mas como um tom diferenciado no discurso modernista, que surgiu no decorrer desta pesquisa a compreensão de que a Abordagem Triangular no ensino da Arte desencadeia a Virada Arteducativa.”

A Virada Arteducativa desloca, assim, o eixo do fazer para a elaboração, ao acrescentar à ideia de Arte como expressão, à ideia de Arte como conhecimento histórico, social e cultural.

Propõe a Arte não como objeto de mera contemplação, mas de produção de sentidos. Transforma a postura do arte/educador de fazedor em um pesquisador de Arte que visa, por meio da leitura da obra de Arte, e da cultura visual a democratização desse conhecimento pelo processo arte educativo. Ser arte/educador no contexto da Virada Arteducativa caracteriza-se pela busca da leitura do discurso visual por meio de interpretações que articulam as ideologias, o inconsciente, a história e as linguagens.”

Acesse Tese de Doutorado de Fernando Azevedo: A ABORDAGEM TRIANGULAR NO ENSINO DAS ARTES COMO TEORIA E A PESQUISA COMO EXPERIÊNCIA CRIADORA. Universidade Federal de Pernambuco, 2014

Veja a continuidade e aprofundamento desta conversa neste vídeo :