Os encantos da palavra temperam a entrevista de Regina Machado para Amina Shah

 

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Via Adriana Costa

“Quando os outros voltaram a si, o narrador havia descido as escadas”
ultima frase do conto O Espelho de Machado de Assis

Foi quando li essa frase que o estado da Arte se instalou em mim.

No silencio devastador que se impôs, como um grande espaço de alargamento dos limites do meu existir, como uma chave de compreensão, como o encontro do texto com algo dentro da minha pessoa. Uma espécie de susto, uma revelação, um vislumbre. Produziu-se uma experiência de significação. Equivalente, imagino, ao impacto que silenciou os debatedores e os deixou “ no espelho”, ensimesmados no efeito que a história de carne e osso produziu em cada um deles.

Ressonância que se espelhou em mim, ao ler a última frase da forma artística criada pelo Machado de Assis, grande mestre na arte de soprar silêncios no ar.

Esse silencio / ressonância / encontro / significação é fundamental na experiência de contato com a Arte.”

Quando a gente compreende alguma coisa que faz sentido, então a vida faz sentido, mesmo que a gente não saiba qual.

“A gente compreende, mesmo ás vezes sem entender, porque a obra conversa com um repertório interno de perguntas, percepções, conhecimentos, inquietações próprios a uma pessoa, particularmente.

Então de um lado, a “genialidade” da obra, a perícia do artista, a qualidade estética capaz de provocar algum estado na gente.

De outro lado, alguém que pode conversar com essa rede de qualidades e estar disponível para essa conversa. Conversa que pode produzir uma experiência de significação que é ao mesmo tempo experiência de pertencimento em que o encontro comigo mesmo, com o outro, com a vida, aponta para uma centelha que acende meus olhos. Que é também uma experiência de harmonia : por um instante a unidade da obra provoca uma ordenação caleidoscópica que acorda minha integridade humana, mesmo que ela esteja, digamos, soterrada. Experiência que se dá no silencio da contemplação, na disposição interna de receber, escutar, permitir o encontro da obra com minha história pessoal e a surpreendente aprendizagem que esse encontro me traz, no assombro, no mistério : produzindo em mim indagações e maravilhamentos a me assegurar que o sentido da vida vale a pena ser buscado.”

Diálogos Sustentáveis

Trata- se aqui de um assunto: o ensino e aprendizagem da Arte.

“Penso particularmente na aprendizagem da literatura, oral ou escrita, tanto faz. Penso de propósito na Arte da Palavra como parte desse conjunto de Formas Artísticas que compõem os currículos escolares de modo em geral tão engavetado. Parece que a literatura está sempre numa gaveta separada, ligada à área do ensino de Língua Portuguesa, difícil encontrá- la ao lado das Artes Visuais, Teatro, Musica, Dança.

No entanto não se esqueçam: tudo o que eu disser daqui para frente inclui muito enfaticamente o ensino e aprendizagem da Arte da Palavra.”

Há educadores artistas e alunos. Crianças, jovens e adultos. Formas, elementos e princípios de formatividade. Procedimentos, técnicas, materiais e critérios de avaliação. Processos e caminhos de aprender. Por onde começar?

Então na Arte existe uma condição, um estado de contemplação do horizonte, o estado de conceber, de arquitetar diversos desenhos, de sondar combinações de imagens.

Como podemos criar situações de contato(nosso) e dos alunos com esse silencio espaço de gestação em meio à balbúrdia do nosso tempo?

Como propiciar o contato e o alargamento desse universo repertório de imagens internas no diálogo com a Arte?

Se o nosso objeto de estudo é a Arte, o processo de aprender/ ensinar Arte não poderia ser semelhante ao processo de criação/ recepção que se manifesta no domínio artístico? Inspirado na experiência que temos, no que vivemos em contato com a Arte?”

Continue a prosa através da fruição desta entrevista :

Matéria mapeada por Adriana Costa

Trechos retirados do texto: Venha ver o por do sol: considerações sobre a experiência do silêncio na formação artística.
Por Regina Machado para Amina Shah

Para saber mais :

Regina Machado é professora livre-docente na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, e doutora em Artes.

Dica de Livro e Evento :

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