Qual o tempo e espaço da brincadeira compartilhada nos espaços públicos?
Por Sallisa Vasco
A rua já foi espaço de brincar, mas com coração aberto é possível ver a resistência da brincadeira em meio ao corre-corre da vida. Na praça Saens Peña (RJ) tem um simpático senhor que joga peão. Sempre que o lança ao chão olha para os lados com orgulho, impressionando as pessoas que transitam rápido pela praça, e que quase não olham. Ele sorri e se diverte mesmo assim. É uma intervenção de brincadeira no espaço público, e ele sempre está ali, só para jogar o peão no meio da praça. Por mais despretensioso que pareça, esse seu gesto é um ato de resistência, de uma infância que insiste em comunicar.
Esses dias ouvi uma criança pequena dizer “a internet está em alta, né”. É difícil contextualizar as brincadeiras tradicionais nas cidades grandes, mas quem vive nelas tem romantizado ou não sobre essas brincadeiras? É uma reflexão que surgiu depois de uma visita à ilha de Paquetá e são questões que surgem para pais, educadores e meros observadores das cidades.
Durante todo um dia (nublado) em Paquetá não vi crianças nas ruas. E trata-se de um lugar que parece ser o paraíso para qualquer criança brincar: não tem carros, não tem trânsito, todo mundo se conhece, tem praias, praças e natureza.
Definitivamente não é o espaço ou o tempo que nos escapa. As tecnologias certamente mudaram hábitos de boa parte das crianças que cresceram nesses últimos anos, dos pais e responsáveis também. Mas assim como o velhinho da praça tijucana, ainda existem muitos brincantes por aí, transmitindo cultura e ocupando os espaços públicos em seus pequenos gestos/ convites.
Para refletir sobre a brincadeira e seu ambiente entrevistamos Paquetaenses de nascença e de coração. Descobrimos nas histórias dos moradores que habitaram a ilha em outras gerações, inspirações para os dias atuais.