Rotas da Memória EntrePontos Cariocas

O livro Rotas da Memória, EntrePontos Cariocas, agora apresentado a público em formatos digitais (e-Pub e PDF), é produto de uma confluência de trajetórias, múltiplas e diversas, de vida e memória no/do Rio de Janeiro.

É a partir dessa multiplicidade de pontos de vista, abordagens e modos de se vivenciar a cidade, a estética e sua memória viva, que o livro traça uma reflexão poético analítica em retrospectiva a partir do trabalho de cartografia e Percursos Formativos desenvolvido pelo Pontão de Cultura e Educação Tear junto à rede de Pontos de Cultura Viva, Ações Locais e outros agentes culturais da cidade do Rio de Janeiro, que deu origem a um processo de escrita criativa co-elaborAtiva junto a Pontos de Cultura e memória entendidos como Museus do Território: Museu da Maré, Ecomuseu de Sepetiva, Instituto Pretos Novos e Museu do Samba, além dos olhares dos próprios arte/educadores do Tear.

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Os textos que compõem o relato da experiência refletem parte de uma experiência a/r/tográfica (IRWIN, 2005) vivenciada em mergulhos poéticos andarilhos, como mediação cultural e ativação dos territórios. Trata-se de uma ação concebida como um museu difuso, nômade e temporário que, em diálogo com o conceito de geopoética dos sentidos (AMARAL, 2015), nos questiona sobre outros patrimônios possíveis e opera como dispositivo de memória contra o “desperdício da experiência” de que nos fala Boaventura de Souza Santos (2010).

O livro abre com um belo prefácio escrito pelo nosso querido educador, poeta e antropólogo Carlos Rodrigues Brandão, seguido de dois textos de contextualização onde a memória se torna relato poético ensaístico na letra de Luiz Antônio Simas, sobre o Rio de Janeiro e de Denise Mendonça que articula a memória do Tear.

Para melhor apresentá-lo, partilhamos um extrato do citado Prefácio:

“E agora este livro chamado Rotas de Memórias. Este álbum entre palavras e imagens. Um livro para ser lido e olhado, claro. E talvez cantado e dançado, se viesse com um CD. Um estranho livro a várias mãos e mentes, que me devolve um Rio de Janeiro que eu mal conheço. (…). Um inesperado livro de um “Rio de poetas, historiadores e antropólogas”. De bons travessos educadores, portanto.

Dos Teares, tessituras e tecidos de onde se origina (e que eu somente fui conhecer quando fui para Goiás), o TEAR é o seu ponto de partida. E como um “ponto de cultura”, e um “pontão” de entre-pontos, é bem mais das “rotas” dos saberes, partilhares (para o bem e o mal) e fazeres de vida e arte ao redor das culturas de uma talvez “cultura carioca”, do que das minhas trilhas entre a natureza de mar-mata-e-montanha, que ele trata. E é um livro surpreendente. E teria que ser, porque já há tantos e tão vários escritos sobre as venturas e desventuras do Rio de Janeiro.

Na sequência do que se teceu e entreteceu entre o TEAR e os pontos de cultura que interagiram com ele, ao invés da narrativa doméstica, escolar e monótona do “vejam só o que nós fizemos nesses anos todos”, Rotas da Memória salta do relato-relatório para a narrativa-acontecimento.

Entre-pontos, uma expressão também cara às fiandeiras dos fundos de Goiás e de Minas Gerais por onde andei, entretece escritos que fazem do Rio de Janeiro uma inesperada Cidade-Macondo. Um Rio tanto meio fora dos mapas, quanto fora dos eixos. Enfim, um péssimo livro para turistas ociosos, ou para buscadores da superfície do curioso, do pitoresco e do típico, e desinteressados do denso e do humanamente próprio.

Quem, entre as pessoas de recato, começaria um livro sobre as culturas de entre-pontos com um escrito com este título tão sartriano: “o adubo e a náusea: a cidade”? E em nome de que admirável e corajoso desvario, ao se falar e dar a ver a presença do negro no Rio de Janeiro, ao invés de uma vez mais se trazer dele algo de sua arte, ou a sua voz de denúncia em seus depoimentos sobre como ainda há quem seja “gente de menos” nesta cidade, em boa medida edificada por eles, por apenas ser “um negro”, o que se escreve e fotografa é um longo e denso estudo sobre o sofrimento do corpo do negro escravo do passado. E um homem-povo negro não apenas publicamente açoitado, mas dado a ver – entre desenhos e pinturas – sofrendo no meio da rua o absurdo do açoite e da imagem a mão que grava a cena?

Neste livro onde a cultura e suas rotas, pontos e entre-pontos é dada a ver e a ler e pensar desde os fundos da Maré, como um lugar de vida coletiva, de arte e resistência tão distante de minha Gávea de florestas e montanhas e de minha Copacabana.

Eis o valor de Rotas de Memória através dos seus Entre-Pontos Cariocas: ser um inesperado desafio a se rever o próprio olhar sobre uma grande e pluri-cênica cidade.  Primeiro a partir do que ela é, quando vista e escrita no que tem de uma peculiar vocação de ser também uma certa vocação de Macondo. Segundo, através de se descobrir nas entrelinhas de seus recantos menos conhecidos. Como quando uma rua pode ser um museu. Ou como o que pensamos ser “patrimônio” não precisa ser o Cristo Redentor, ou o Museu do Amanhã, para tornar-se um bem-coletivo e partilhável de um valor inestimável. Terceiro por demonstrar, sem apelos a cifras e a feitos, como com criatividade e persistência pode-se solidariamente entretecer pontos e recriar belos e densos espaços e tempos não tanto de uma cultura-pronta-para-uso, mas de uma diversa – e até divertida – cultura que se cria, quando entre os teares do imaginário as pessoas se encontram (…).”

Curta-Documentário Rotas da memória EntrePontos cariocas

Realizado pela própria equipe do Pontão de Cultura e educação Tear, o curta-documentário sobre a experiência a/r/tográfica vivenciada, intitulado Rotas da Memória entrePontos Cariocas busca uma síntese audiovisual das rotas a partir dos depoimentos dos participantes.