A prosa poética de Bartolomeu nos convida à uma participação lírica no mundo.
Por Adriana Costa
Os acontecimentos do cotidiano são relembrados
num tom metafórico que dá asas ao leitor
“ Aprendi a ler com o meu avô.. Meu avô escrevia nas paredes da casa, eu tinha uma casa muito grande. Ele escrevia tudo o que acontecia na cidade nas paredes. Quem morreu, quem casou, quem viajou, quem matou, quem traiu, tudo ele escrevia e eu ficava perguntando: “que palavra é essa?”, “que palavra é aquela ?”, então de repente eu sabia ler. Quando eu entrei para a escola, até hoje eu brinco muito, eu tinha tanta necessidade de ser amado que eu fazia de conta que não sabia ler nem escrever e aprendia tudo de novo para a professora gostar de mim.”
Em sua artesania com as palavras o poeta caminha para o ofício de Educador e sua atenção aos sentidos o leva a um questionamento filosófico do processo cognitivo humano:
“Nessa época em que eu estudava Filosofia, eu tive um contato com a teoria do Merleau Ponty, que dá a grande sacada da educação contemporânea quando começa a trabalhar com os sentidos na fenomenologia da percepção. E ele fica muito tempo olhando para o sol e ele descobre que o olhar toca. O ouvido também é tátil, quando você ouve uma boa música você arrepia o corpo inteiro. O gosto tem memória.O homem é inteiro, o homem não é dividido em sentidos, um sentido leva a outro, um sentido está contido em outro. Ele fala belamente que o primeiro objeto de leitura é o olhar do professor, porque tem pessoas que nos olham e nos afastam. E tem pessoas quando nos olham, que nos acariciam.”
Sua vereda é a da Arte Educação, mas esclarece:
Sou de uma arte-educação no Brasil, que é do momento do Augusto Rodrigues, Noêmia Varela, que toda vida foi uma pedagoga comprometida com a subversão. Então, uma pedagogia maravilhosa, uma pedagogia do incômodo, que não tem receita.Que só tem procura, que você tem que ter nas coisas. Todo mundo que tem certeza, a única coisa que fica é fanático. Toda pessoa que encontra a verdade, ela tem essa incapacidade de ouvir, ela só fala. Então, a escola encontrou a pedagogia da verdade, só ela que fala. Ela tem a certeza da verdade, ela não faz uma pedagogia da dúvida. . Eu nasci e fui criado por via de dúvidas. Eu adoecia e minha mãe chamava um médico por via de dúvida, mas por via de dúvida ela me dava um chá e por via de dúvida ela acendia uma vela e por via de dúvida ela mandava benzer, então, quando eu ficava curado, ficava curado por via de dúvidas. E eu peguei a metáfora como uma maneira de dúvida. A metáfora na literatura… A metáfora, mais do que uma figura de linguagem, é uma ação democrática. É quando você constrói um objeto e você dá entrada para todo mundo: cada um entra com o que pode, cada um faz o que pode. É uma coisa que é bonita na literatura, que é do Foucault isso, que, o que o sujeito lê não é o que eu escrevo, mas é o silêncio que eu deixo entre as palavras. A metáfora é isso. É aí que a arte entra, na metáfora que existe em qualquer obra de arte. Ela não é só uma figura literária, é uma figura da arte.”
“Arte é aquilo que você não dá conta de ver sozinho. A beleza te leva a uma solidão profunda e você só encara quando você traz alguém para ver com você.Você está lá no Museu do Prado, sozinho em Madri, de repente, você vê um quadro, uma escultura do Adriano. E você pensa: “Mas Fulana que deveria ver isso!”.Você vai ao cinema e acha o filme lindo. E antes de terminar você fala: “Mas era Fulano que deveria estar aqui”. É uma coisa erótica a arte, ela tem que juntar, aproximar, amarrar. Ela não dá conta sozinha.Você não dá conta da beleza! A beleza é o que nos aproxima, que nos amarra, que nos junta.”
Dicas de outros “links” pra você navegar e conhecer mais sobre o arte educador:
Link dessa página: https://institutotear.org.br/4308