Conversações sobre a série de pinturas da artista plástica Martha Barros
Por Ana Emília
“imagens são palavras que nos faltaram”. Como recorrer às palavras, então, quando estamos diante de imagens que nos fazem sonhar acordados? Que nos atraem e nos convidam a mergulhar num universo de cores, formas, movimentos, sentidos e sons? Seria mesmo necessário falar? “Eu, particularmente, depois de olhar as pinturas da Martha e passar um tempo em silêncio com elas, sinto vontade de dançar. De celebrar. De cair na folia. De ser um desses seres que pulam, rolam, se embolam, rodopiam, esticam, encolhem e partem em revoada pelos ares, mares e terras longínquas da tela.”(Bianca Ramoneda)¹
Martha aposta na poesia silenciosa das formas e cores e retoma um universo onírico da infância, elemento marcante em boa parte dos seus trabalhos.
Carioca com raízes em Campo Grande (Mato Grosso do Sul, Brasil) ela se enveredou por conhecimentos diversos que perpassam as áreas da literatura, biblioteconomia e artes visuais. Fez escola no parque Lage, cursou atelier de Hélio Rodrigues e frequentou aulas com os mestres João Magalhães, Gianguido Bonfanti, Charles Watson, John Nicholson e Anna Bella Geiger.
Bem antes de tudo isso ter acontecido, Martha recebeu um presente da vida, ter como pai Manuel de Barros, de quem herdou toda a sensibilidade para expressar a poesia guardada nas coisas simples da vida.
Silêncio e Alvoroço é uma das séries consagradas da artista Martha Barros. Marcada pela cadência de movimentos suas 23 pinturas são inspiradas por desenhos rupestres e infantis, dando origem à traços simples donos de expressividades humanas essenciais.
Martha conta como surgiu a série:
Fui convidada a expor em Lisboa (Portugal) na Casa da América Latina (CAL) e, também, na Galeria das Salgadeiras na mesma época. Já estava trabalhando para a exposição da CAL quando chegou a proposta da Galeria das Salgadeiras com o tema Silencio. Assustei pois o meu trabalho é mais para um Alvoroço! Então, fiz uma serie especial, com menos imagens, mais espaços vazios, cores claras, pensando numa representação melhor para o silencio. O que foi um grande desafio.
O astrolábio pergunta : As telas da série parecem sugerir estados como a inocência e o sonho. Gostaria que falasse da sua relação com esses temperamentos: o silêncio e o alvoroço.
O tema alvoroço já faz parte do meu processo criativo. Sou uma artista inquieta, trabalho muito, tenho filhos, netos e uma vida bem movimentada que deve se refletir no meu trabalho. Já o silencio, como disse anteriormente, não faz parte do cotidiano de meu processo criativo.
Essas figuras da série, creio que estão dentro do meu inconsciente e vem da minha infância, das minhas fontes.
Dizem que minha pintura está ligada a natureza. Fui para o Pantanal com três anos de idade e lá fiquei um tempo da infância que me marcou muito. Esse contato íntimo e forte que tive com a natureza, nesse período, com certeza influencia minha obra até hoje.
Astrolábio: As camadas de tecidos e papeis que interagem com sua pintura, tornam-se parte dela. Qual seu interesse em utilizar essas texturas.
“Tudo que serve para o lixo, serve para poesia”, já disse o poeta. O artista tem essa liberdade e tenho gosto pelas coisas jogadas ou reaproveitadas. Puro prazer, uso espontâneo. Algumas coisas me lembram o que estou fazendo e me chamam.
“Imagens são palavras que nos faltaram”. Imagino que deva ter escutado muito essa frase ao longo de sua trajetória enquanto artista. Na convivência com suas imagens, você descobriu alguma palavra que lhe faltava?
Lidamos com a falta, o mistério. É assim começar uma tela em branco. A pintura, como qualquer outra criação artística, é um processo de busca e alguns acertos. É preciso haver uma obsessão no fazer. Mesmo sem saber onde vai acabar, sem conhecer os caminhos!
1 Fragmento do texto “Para Dançar em Silêncio” disponível no site da artista
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